sábado, 19 de março de 2011

Lançamento Livro - "Poemas auto-escritos em estado de Sonambulovisão"



A obra “Poemas auto-escritos em estado de Sonambulovisão”, segundo livro de Caio Garrido, é um Inconsciente em ebulição. Para poder existir uma nova poética é preciso que haja um novo olhar frente ao mundo, ao universo e ao criterioso universo de um “Eu” em busca de expansão. Para que seja uma evolução ilimitada de mente, espírito, e coração, a poesia tem que retornar ao Antes do Começo. Um retorno quase “paleolítico”, aos meandros da mente e seus desejos. Caso olharem de frente para os poemas e poesias contidas neste livro, estarão próximos a uma visão que se aproxima da leitura de um mito. Leitura não no sentido concreto, mas de uma abstração em que os processos do pensar se sobrepõem, se misturam, se confundem.


Os “Poemas auto-escritos em estado de Sonambulovisão” nos obrigam, como leitores, a sonhar o tempo todo. É que a poesia é algo tão pessoal e subjetiva que ela só pode ser descrita na vivência auto-sonambúlica do autor. Não obstante a sua capacidade de ser metafísica, ela me parece ser anterior à linguagem quando esta se articula através de letras (sons) e palavras (fonemas). Poesia que refresca como um novo nascimento, podendo nos propiciar uma nova maneira de rimar e sonhar.

Prefácio de David Azoubel.
Arte da Capa: Jonas de Sene.

Lançto.:
Data: 7 de maio a partir das 19:30 hs
Local: Templo da Cidadania
R.Conde Afonso Celso, 333, Rib.Preto

+informações e vendas pelo blog:
http://www.caiogarrido.blogspot.com/


Download do Livro "Pena que foi Ontem"


domingo, 30 de janeiro de 2011

Mia Couto – “Antes de Nascer o Mundo”


Raramente podemos nos deparar com um novo escritor, um novo artista da palavra que o “mundo” pouco conhece, e que pode nos surpreender de maneira inequívoca… Este é o caso do autor moçambicano Mia Couto.


A poesia presente na narrativa em prosa de Mia no Livro “Antes de Nascer o Mundo” impacta de forma crescente o leitor.


O primeiro capítulo já é um convite e um prenúncio da “viagem”: “O Afinador de Silêncios”; Mwanito, o primeiro personagem que aparece no roteiro, é quem começa a contar a história. De forma sensível e surpreendente, descreve cenas que vão ficar para sempre na memória.


A África é mostrada de forma apaixonante, misteriosa e fantástica, através dessa história que se passa na cidade ficcional de Jesusalém.


Aproxime-se do que é um pedaço do livro:
“—Pai, a mãe morreu?
— Quatrocentas vezes.
—Como?
—Já vos disse quatrocentas vezes: a vossa mãe morreu, morreu toda, faz de conta que nunca esteve viva.
—E está enterrada onde?
—Ora, está enterrada em toda parte.”


Só por essa leitura, para mim Mia Couto já pode estar com sua cadeira seleta no Hall dos melhores escritores do mundo. Antes que o Mundo Acabe, dêem uma conferida nesse livro e autor. Sublime…

“Jesusalém, ermo encravado na savana, em Moçambique, abriga cinco almas apartadas das gentes e cidades do mundo. Ali, ensaiam um arremedo de vida: Silvestre e seus dois filhos, Mwanito e Ntunzi, mais o Tio Aproximado e o serviçal Zacaria. O passado para eles é pura negação recortada em torno da figura da mãe morta em circunstâncias misteriosas. E o futuro se afigura inexistente.
Silvestre afiança aos filhos e ao criado que o mundo acabou e que a mulher — qualquer mulher — é a desgraça dos homens. Mas um belo dia os donos do mundo voltarão para reivindicar a terra de Jesusalém. E não só isso: uma bela mulher também virá para agitar a inércia dos dias solitários daqueles homens.
Mia Couto é um dos maiores expoentes da literatura africana de expressão portuguesa. Moçambicano e amante confesso da escrita inventiva do brasileiro Guimarães Rosa, ele é um artista investido do poder mágico e poético das palavras. Mas é da alma do povo de seu país, bela, trágica, alegre, sofrida, enigmática, que este poeta da prosa extrai seu ouro universal.
Em Portugal, Moçambique e Angola, o livro recebeu o título de Jesusalém.”

domingo, 15 de agosto de 2010

Blog Amigo

Olá, pessoal, gostaria de convidá-los a entrar no blog do xará Caio Bauléo. Poesias e tudo mais... Abrs!


http://mousseficando.blogspot.com/

terça-feira, 27 de julho de 2010

A mão que afaga é a mesma que destrói?

Este é um pensamento velho, xôxo.


Mas digamos que não o seja… (Acho que devemos ter esse mesmo empenho com todos os pensamentos antigos, usados, obsoletos)


Esses dias me peguei pensando… Ao tomar conhecimento de uma obra musical, eu vi que a mesma fora patrocinada por uma grandiosa empresa de Petróleo. Provavelmente é um merecido projeto patrocinado por ser uma obra artística de alto valor cultural para o país. Não tenho dúvidas de que a obra musical citada tenha uma miríade de valores.


O que questiono aqui é o fato de estarmos todos tão amalgamados a um Todo, que, quer queiramos conceituar como ruim ou bom, estamos Nele. A cultura e a sociedade que vivemos é um caro exemplo disso. Como poderíamos conceituar a empresa petrolífera neste caso? Uma empresa de alto valor social, prestativo? Uma seda que cobre e disfarça um mar de terror e descaso para com a sociedade humana? As duas coisas? Nem uma coisa nem outra?


Difícil não? Assim como a maioria das “coisas” da vida, tudo que pegamos como um “objeto” final e de essência última, não conseguimos achar essa essência última. E porque não? Porque essa essência não existe.


No caso parcialmente despido acima, podemos ver o quanto está impresso em nós um “estar no mundo” que não permite totalizações últimas e definições últimas.


Já deixei claro em outros escritos o quanto acho que o mundo é governado não por políticos, mas por grandes empresas. No caso de empresas de petróleo, o caso é muito grave. Pois são elas que mancham (literalmente) o nosso mundo. Essas empresas comandadas por “bípedes”¹, governam a razão dos ambiciosos descabidos, saqueiam a beleza natural, matam ideias possuidoras de potência criadora e agregadora para os humanos. Mas somos tão culpados e coniventes com tudo isso, que é impossível saber o começo e o fim dessa grossa e condensada camada de “lama”. Olhemos nossa “Sombra”. Somos consumidores ou cão-sumidores? Talvez o melhor seja assumirmos nossas dores.



“Devemos encarar com tolerância toda loucura, fracasso e vício dos outros, sabendo que encaramos apenas nossas próprias loucuras, fracassos e vícios. Pois elas são os fracassos da humanidade à qual também pertencemos. Assim temos os mesmos fracassos em nós. Não devemos nos indignar com os outros por esses vícios apenas por não aparecerem em nós naquele momento." - Arthur Schopenhauer – trecho de Parerga e Paralipomena

¹
Quem conhece Schopenhauer sabe do que estou falando… rs


poema em papel de pão ; Fy: VCSBDQSTFLND

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Enquanto a Copa não vem...



Este título de post pode até sugerir uma certa dose de ansiedade e vontade de ver o grandioso futebol na Copa do Mundo de 2010. Mas fora o título, não há sopa que possa fazer esse caldo dar certo desta vez em minha cabeça.



Por muitas Copas me rendi e cheguei ao cúmulo – tal qual muita gente – de não perder nenhum jogo do embriagante (no bom sentido) torneio. Mas neste foco não permaneci, e pela primeira vez acho que vou acompanhar com uma deslocada sobriedade, desencantamento, realismo, e… algum saudosismo… Lembro com intensidade de como comemorei o lindo gol do “Careca” na Copa de 86 contra a França (um dos mais bonitos que já tive a oportunidade de ver), em meio a uma tradicional festa na casa de minha Vó. Lembro como no mesmo dia, após a impossível perda de um pênalti por Zico, e após uma derrota sofrida para o maior carrasco do Brasil em copas, saí chutando as cadeiras de plástico coloridas, em meio à insatisfação por um desejo refreado. Mais do que essa “dor” da perda, ficou em minha memória a delícia de ver um dos melhores jogos de futebol, e jogadas de craque.



Me parece que são elas as vilãs. Elas quem, você pode me perguntar… As cadeiras? Não, as jogadas de mestre, as obras vivas de arte. Há quem diz que futebol é poesia… Acredito que sim. Mas ultimamente o que temos visto é uma dissertação chata de como se entediar um cão.



Parecem todos adestrados pela visão racionalista e indesculpável da garantia da vitória. O ser humano tem em seu íntimo um complicado conflito que nada entre a contenção e a liberdade. Vivemos entre esses dois pólos quase que diariamente nas mais diversas e sutis decisões. Já é dia de querermos aposentar esse desconfortável choque interno, mas deste somos parte. Mas um recalque de envergadura se arma no interior do futebol. Uma reprimenda tamanha de algo contra o que eu poderia chamar de um “instinto de brincar”. Tal instinto parece estar sendo reprimido em seus participantes. A arte de jogar bola está ficando totalmente em segundo plano, para estar em consonância com a produtividade. Os torcedores sul-africanos, por exemplo, ficaram consternados em constatar em um dos treinos da seleção brasileira que o Brasil não trouxe Ronaldinho Gaúcho. Eles perguntavam aos jornalistas e se perguntavam quase inocentemente: “Cadê o Ronaldinho?”. Eu também estou até agora perguntando isso, bobo que sou.



Confesso que para escrever essa pequena critica ao futebol atual, me inspirei num cara que sou fã de carteirada (carteirinha ilimitada). Não, não é um jogador de futebol. É um psicanalista e professor, apaixonado por futebol e mitos. David Azoubel. ponto. No seu segundo livro “O Futebol como Linguagem: Da Mitologia à Psicanálise”, o autor faz algo raro, a inserção da linguagem psicanalítica no campo dos esportes, integrando fatos do esporte com a mente e os mitos humanos mais “embrionários” possíveis.



Pensando na repressão dos instintos e na moderna tentativa superegóica técnica de auto-dissolução de uma arte, vou tentar embasar minha tentativa de argumento contra o racional futebol atual, através de uma das mais exuberantes páginas das 300 que compõe o ‘Ensaio’ de David. Diz ele:

Tenho certeza de que se eu afirmasse que existem jogadores que, quando fazem um gol se sentem tão culpados que se retraem e não raramente somem no jogo, isso poderia causar até um certo espanto. Culpa de quê? Por que eles ficam culpados? A resposta mais exata e precisa nos obrigaria a mergulhar no mundo subjetivo dessas pessoas, na estrutura mais íntimas de sua mente e de seus processos ideo-afetivos. Mas já, que é para resumir (às vezes me parece mais condensar), me arriscaria a dizer que é culpa do sucesso. Isso existe mesmo? Existe sim, não é fantasia de psicanalista desocupado. Não gosto de citar exemplos clínicos, mas não resisto à tentação de citar um deles, uma pessoa que conheci, homem de meia idade, competente, brilhante mesmo no exercício de sua profissão, toda vez que era promovido no seu trabalho tinha um acidente grave de carro, um acidente do qual sempre escapava por milagre. É verdade. O inconsciente da gente existe, e há mais de três milhões de anos vem se especializando em brincadeiras de mau gosto e atos, na maioria das vezes, absolutamente ilógicos… A maioria das pessoas sofre de um grave impedimento nas relações com o pai, ou com alguém que represente sua autoridade. Isto acontece em muitos sentidos, tanto de uma forma mais concreta como de acordo com os mais variados modelos. Afinal de contas, uma metáfora nada mais é do que a possibilidade de se fazer variações sobre um mesmo tema. E em todas as culturas o pai é, e sempre foi, uma figura poderosa. Por que teria que ser diferente na hora de jogar futebol? É compreensível que esse relacionamento possa ser transferido para o técnico, para os seus auxiliares e demais autoridades (incluindo os “cartolas”) mais ou menos próximos aos jogadores… A possibilidade de tolerar o sentimento de sucesso sem enlouquecer durante um período de tempo mais prolongado, é um fator significativo para qualquer um de nós, seja qual for o tipo de profissão escolhida.”



Deixo a pergunta aqui: Afinal de contas, quem é o “pai” desse futebol órfão de hoje?




Link da chinelada de Careca em 86 - http://www.youtube.com/watch?v=rLXJtYv2hog

sábado, 8 de maio de 2010

Pena que Foi Ontem


Meu primeiro livro, um Romance em Prosa e Poesia – “Pena que Foi Ontem”, estará sendo lançado dia 22 de maio (sábado) no Templo da Cidadania em Ribeirão Preto . Endereço : R. Conde Afonso Celso, 333. às 20:00 hs.

Mais detalhes no blog:
http://penaquefoiontem.wordpress.com/

Já à venda: contatos por email (email está no blog do livro)

Abrs...

sábado, 24 de abril de 2010

Eis porque sou contra a "chapinha"

“Não é o ângulo reto que me atrai, nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual, a curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. De curvas é feito todo o universo, o universo curvo de Einstein.”
Oscar Niemeyer

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Nos limites da loucura e da genialidade

Os psicóticos são exemplos clássicos de uma obra inacabada da natureza. Não é um julgamento isto que estou falando, nem um comentário maldoso. Simplesmente fato. Realidade. Realidade conturbada…
E a personalidade psicótica (assim como a esquizofrênica) é datada. Datada, pois é algo para Ser, que não vingou, ou ainda não vingou da maneira essencialmente “natural”. Um tempo primitivo da mente que se desintegrou. É como se os conteúdos do Id, os impulsos inconscientes instintivos, não podendo simbolizar-se, não atingindo satisfação nos momentos de vida mais primevos (na relação com a mãe), perderam o contato com a realidade, e estapearam a camada fina de um ego ainda em formação, e tornaram este ato, um ato quase ilícito, um ato de revolta de impulsos rebeldes.

Essa “rebeldia” inconsciente é algo que se não administrada pelo ego, coagula em loucura, ou se bem direcionada (se é que isso é possível) pode trazer uma superação das insatisfações pulsionais através de atos sublimados, como a arte e a criação em geral. Acredito que a loucura, a genialidade e atos artísticos estão sobremaneira ligados.

O ato artístico tem um porém, que é algo definido como uma transformação de conteúdos instintivos em pulsões que buscam como o objetivo a expressão na arte. É a tal da sublimação, tão pouco explorada por Freud.

Já a loucura vem de expressões do inconsciente, que por algum fator desconhecido (apesar de termos conhecimento de causas “ambientais” e genéticas) irradia todo um jorro de conteúdos sem simbolização para o indivíduo que sofre do mal, e dispersa todo esse excesso de energia psíquica em algo extremamente irreal. Daí vem as ilusões, delírios, alucinações.

Os gênios artísticos do nosso tempo são exemplos de casos de pessoas que chegaram a um ponto em que a loucura, ou algum traço/tipo de loucura, o prazer, e realização artística se fundiram e se confundiram. Exemplos como o de Nietzsche, Beethoven, Virginia Woolf, Salvador Dali, Tchaikovsky… A lista vai longe. Geralmente são pessoas dramáticas (no bom sentido e no mal às vezes), altamente emotivas, e carregadas de sentimentos.

A criatividade está muito ligada ao fato de se lidar com conteúdos advindos do inconsciente, dando a eles uma direção, um objetivo. Já os impulsos que perdem a funcionalidade, se tornam caóticos e ultrapassam sem filtros a barreira de contato que controlaria estes impulsos, ocasionando disfunções no aparelho psíquico.

W.R. Bion, psicanalista e teorizador da psicanálise, definia a barreira de contato como uma “fronteira” que se responsabilizasse por preservar a diferença entre Consciente e Inconsciente, preservando assim o Inconsciente. E da qualidade da barreira dependeria a conversão de elementos do Consciente para o Inconsciente e vice-versa.

Os gênios na maioria das vezes se aproximam perigosamente da loucura, pois há uma convulsão de elementos do inconsciente que atravessam uma certa “barreira” psíquica e vão em direção ao consciente, tomando assim alguma Forma. Quando esses elementos tão atraentes ao psiquismo, mas ao mesmo tempo temidos e rechaçados pelo consciente não tomam uma Forma, possibilitam a existência de “cargas” livres, uma energia, uma libido desvinculada de “objeto” que pode na maioria das vezes causarem “sintomas”.

Essa é a tênue linha pela qual caminham os seres demasiadamente criativos, desviando-se de atropelamentos de impulsos, e atravessados por insights e potências supremas, que se não bem administradas, podem levar à algum tipo leve ou desconjuntado de loucura.

Se de gênios e loucos, todos nós temos um pouco, não saberia dizer, mas os nossos sonhos nos dão uma amostra de toda essa vibração, criação e loucura inconsciente.

Que façamos mais “loucuras” conscientes!

sábado, 27 de março de 2010

Como Sonhar em Mi Bemol

Prepare duas chícaras.
(Uma pra si, outra para o outro si que há em ti)
Chá de ervas herbáceas
Uma leitura de os vassalos só choram à meia-noite.
Aqueça a voz.
Aquela Voz...
Permanente, Onipresente, Pungente.
Veja o Pleonasmo de si na voz passiva...

Trata-se de pegar aquele Fundo Falso, o calabouço que guarda a erupção de um vulcão hibernado e quente, guardado à sete-chaves-perdidas no canto do couração-mente,
E traduzir esses versos estéreis, tornando-os etéreos, em estéreo...

O verbo que solfeja em quartos diminutos,
Falsifica.
Para Sonhar,
sem arritmias, com harmonias, exaltando o que há de Si, o que há de Mi...
Não precisarás
nem de iluminação, nem de farol,
Bem-te-vi. Já estava .

Latente,
o Bemol.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Pela Diminuição da Jornada de Trabalho- Um Grito

Por que se fala tão pouco nisso? É um medo generalizado, ou apenas uma tortura silenciosa corrompendo as mentes?
Tanta parcimônia em se pensar sobre isso sobrevem aos meus sentidos...
E meus sentidos quase me gritam e me guiam como um oráculo que perturba por dizer a verdade. E sendo direto e objetivo, meu simples "Eu" acha que uma mudança de magnitude simples, mas eficaz, como a diminuição da jornada de trabalho, além de alocar mais empregos, faria de nós, provavelmente, seres humanos melhores.
O mundo cercou-se de configurações de trabalho, de cultura, que aprisionaram o ser humano, que aliás, gosta de uma prisãozinha que o "machuque" e o pertube.... Ou você acha que a Segunda-Feira, o Sábado ou o Domingo realmente existem ?
A Terra gira, e minha cabeça também...
Esparramo-me aqui em frente a esta beleza de computador, construído pela inteligência bem instruída da humanidade, e me pergunto: Será que não há outra versão de nós mesmos mais inteligente e criativa do que esta que está por aí e por aqui e por vir?
Quantas vezes você já pensou que não poderia ter mais tempo, para a diversão, para outros afazeres, para a família, enfim, para viver?
O trabalho é fonte de sobrevivência, de altruísmo e de prazer, porque não? Mas tudo em excesso provoca fadiga e tensão...
Na Espanha, eles fazem a "siesta", na Bahia, dizem : "Mais devagar, meu nêgo, hoje é sexta"...
A minha verdade é que trabalhamos demais. Não sobra espaço para uma vida mais saudável e criativa...
Se foi a religião, ou deus, ou algum outro capitalista por aí, que nos deixou o sábado e o domingo de lambuja, não importa... O que importa é duvidar do mundo que criaram para você e por você...


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Aos trabalhadores de verdade:

Bater o Cartão de Ponto x Vida na obra

Bati o Cartão
Às três horas meio dia
Meia-noite ainda era dia

Terremoto facilita o voto
Treme a enxada no chão
Do trabalhador sem roupa
Ser-nada, não-ladrão

Paz como vive aqui...
Visito os pobres
Por trás do vidro-fumê
Do carro empalhado em minha mente pela TV
E os pobres?
Ah
Eles suam nas ruas a carne
Que é pra você ter onde comer

Bati o cartão ao fim-do-dia
Amanhã de novo é Bom-dia!

Trancado e empregado
Não é tão bom...

Mas é como ser
um ser premiado
por poder ver e até escolher
aquilo que muitos nem sonhar
podem acreditar em crer

Posso bater o cartão a vista
E eles? A prazo, a perder de vista?

Digo aos quatro ventos;
(Ventos, pois dizemos
e ninguém ouve, acho que ouvimos cada vez menos):

Cartão de Ponto é fazer hora
Vira dois pontos em uma hora
Unir dois, três, quatro pontos
É pra poucos
Poucos irão morrer por uma Obra.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

O Budismo Original - Sem Distorções


Como toda religião, o Budismo não passa indiferente às distorções de significados, linguagens, e deturpações por assimilações com outras religiões na história, fato muito comum na história das próprias religiões.

O Budismo inicial, primevo, ditado por Buda, era isento de idolatria a deuses, isento de dogmas. Foi se criando ao longo do tempo uma série de doutrinas a partir de sua morte, distorcendo assim as fontes.

O budismo sempre foi uma mescla de religião e filosofia. Era sim uma filosofia, das mais perfeitas. Mas também não deixava de ser uma religião, pois pretendia a salvação da alma do Homem.


Buda sempre deixou gravado na sua filosofia a verdadeira liberdade, livre dos grilhões que sempre se acumulam no espírito e no pensamento. Dizia ele:


"Não acredite em mim porque sou o seu professor. Não acredite em mim porque os outros acreditam. E também não acredite em nada porque leu num livro. Não coloque sua fé em relatos ou tradição ou rumores ou na autoridade de líderes ou textos religiosos. Não conte com mera lógica ou inferência ou aparências ou especulações. Conheça por você mesmo que certas coisas são prejudiciais e erradas. E quando o fizer, então desista delas. E quando souber por si próprio que certas coisas são benéficas e boas, então as aceite e as siga."


Cabe dizer também que o o budismo original sempre tinha como esmero a libertação do sofrimento durante a vida. E não na extinção dela.

E que a filosofia que mais se aproxima hoje do budismo original é a do Zen.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

domingo, 31 de janeiro de 2010

Namastê Filosófico – A busca pela Verdade


“A Verdadeira filosofia zomba da Filosofia” - Blaise Pascal


Depois de ler o Livro de Simone Regazzoni, que discorria sobre toda Verdade que ele via na famosa série televisiva “Lost”, tive a intensa ideia de falar um pouquinho sobre a tal da Verdade que a Filosofia sempre buscou.


A busca pela Verdade, da verdadeira, íntima, realidade das coisas, do Autógrafo de Deus, sempre foi o fundamental prisma na qual a Filosofia se engajou.

Cabe perguntarmos: O Conhecimento da Verdade (toda) realmente é tão importante? Se respondermos que não, veremos que talvez haja uma espécie de “libertação” a partir de tal ponto.


Vamos partir então da ideia da existência de alguma essência de que poderíamos chamar ou denominar de “Eu”. Submetendo este conceito de “Eu” ao crivo da dúvida metódica clássica filosófica, ou mais precisamente, da filosofia budista, por exemplo, (para saber mais sobre Budismo, vale alguns cliques: http://www.acessoaoinsight.net/ -- http://www.dharmanet.com.br) poderemos chegar à conclusão de que não existe um “Eu” propriamente dito. O que existe, meramente, é um conceito de “Eu”.


Quando alguém, genericamente reconhece em ti algum “Você”, ou exemplificando, alguém traz algum tipo de reconhecimento a um trabalho seu, algum esforço, ou alguma gratidão a você, imediatamente você se sente congratulado ou pelo menos um pouco envaidecido. Não há mal nenhum nisso. O Reconhecimento, o ato de reconhecer ou ser reconhecido por algo é deveras importante. E é importante não porque reconhece algum “Eu” de que você irá se orgulhar; O que está no fundo deste filme é mais profundo. É importante, pois, reconhecer seu “trabalho”.


Reconhecer seu Esforço.
Reconhecer seu Sofrimento para a consecução de algum objetivo.
Reconhecer seu Desejo para sair do “Sofrimento”.


Reconhece assim sua Humanidade por trás de tudo isso. O “Humano” em Você. A Força da vida que te anima. Pois o que arde em você, arde em mim.


Isso tudo reconhece que a “diferença” existente entre dois indivíduos é apenas aparente. Certifica-se através de uma palavra, um gesto, que o Outro é semelhante a você. É como se uma voz falasse: “Agora te reconheço como eu mesmo.” O Reconhecimento é Transcendental.


E onde está a Verdade nisso tudo? Em tudo...


Se esquecermos a ideia de “Verdade”, iremos nos ocupar do “Aqui e Agora”. Sempre irá existir a realidade que está Além. Então apenas cuidemos de nossas plantações e colheitas, de nossos “irmãos”, de nossa casa. Isso de certa forma basta.


Reconheço o deus que há em você. Namastê!

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

O Luto das Tragédias da Natureza (hO Men) hóminúsculus


Hoje de manhã acordei, abri a janela, olhei no vaso com plantas amassadas pelo vento que sopra sem certezas nem objeções, e reparei que não tinha Poemas para colher.

Sentei amargado junto ao palco da minha sacada e observei o mundo ensacado pelo verão que conspira como se fosse um inverno. Invertidas sensações que não me acolhem, pois não as planto, e em doce pranto que me penteia com retalhos de um esquecido canto, sinto a vertigem de ouvir os ruídos que agora me permeiam em meio ao turbulento ponto de apoio que não sei se tenho.

Ruídos que enrijecem meus miolos e músculos, e me deixam tenso como uma corda sem melodia.

Estou cercado por um mundo torto, desconexo, sem conserto nem concerto.

sábado, 23 de janeiro de 2010

Namastê Psicanalítico – O Sentimento Oceânico


Com o passar do tempo e decorrer de vida deste blog, fui me distanciando do escopo psicanalítico, no qual era o principal objetivo e exercício de raciocínio deste blog.

Com o intuito de levemente aproximar-nos novamente da Psicanálise, vamos começar por onde terminamos os últimos “posts”: Em direção a uma maior consciência...

Peguemos então nossa jangada e avistemos as ilhas ainda não descobertas...

A ideia da possibilidade de se maximizar a Consciência humana, se Utopia ou não, vem também da própria ideia de Inconsciente, dado lançado de forma inconsciente por filósofos antigos, e de maneira genial e inovadora por Freud.

Somos parte de um Todo...

A Física, a Química, a Espiritualidade em seus diversos “ismos”, a Psicologia, enfim, muitos canais de conhecimento e sabedoria nos falam e flertam com isso.
Uma certa interconexão entre os seres vivos, a “matéria”, a energia, sempre foram alvo de estudos e de elucubrações.

Tal inter-dependência é caracterizada por um “mundo inter-relacionado ; um planeta que é um organismo vivo, onde cada habitante, cada ser está interligado...” - (Fy- http://windmillsbyfy.wordpress.com)...

Mas porque na maioria de nós, humanos, temos o sentimento de estarmos desplugados do mundo a nossa volta? É uma rotineira sensação que nos alcança sob diversas formas...

Apesar disso, acho que tal compreensão de perda de sintonia e de procura de uma volta, está mais perceptível à nossa atenção. E realmente estamos tentando “reperceber” ou reaprender esta interconexão, pois a realidade não tem revestimento.

Não será esse sentimento de eterno despreparo frente ao mundo e sentimento de desconexão, algo advindo de um sintoma ou desequilíbrio neurótico?

O corpo teórico da Psicanálise pode nos oferecer algumas razões a respeito disso.

Freud, no seu famoso livro “O Mal-estar da Civilização”, nos fala a respeito do sentimento oceânico, do qual ele mesmo não sente em si; “Nosso presente sentimento do ego não passa [...] de apenas um mirrado resíduo de um sentimento muito mais inclusivo - na verdade, totalmente abrangente -, que corresponde a um vínculo mais íntimo entre o ego e o mundo que o cerca. Supondo que há muitas pessoas em cuja vida mental esse sentimento primário do ego persistiu em maior ou menor grau, ele existiria nelas ao lado do sentimento do ego mais estrito e mais nitidamente demarcado da maturidade, como uma espécie de correspondente seu. Nesse caso, o conteúdo ideacional a ele apropriado seria exatamente o de ilimitabilidade e o de um vínculo com o universo – [...] o sentimento ‘oceânico’. "

Existem certas condições psíquicas existentes nos indivíduos que são geradas e guiadas por um contorno especial, trazido como se fosse uma memória afetiva dos tempos glórios e inglórios da relação com a mãe, no período compreendido desde o enovelamento narcísico no útero da mãe, até a concepção, a amamentação, o desmame, e todas as outras formas de separações inevitáveis que vão ocorrendo ao longo da vida.
Rompimentos ou vivências que possam ter acontecido de forma demasiadamente abrupta ou com sofrimento (toda separação é um sofrimento), podem acarretar uma série de complicações psíquicas ao humano.

E no decorrer dessas “faltas”, sentidas como perdas irreparáveis, propiciam uma sensação de que se está só, e de que toda relação, como o amor, a amizade, ou a falta dessas, ficam implicadas por esses denominadores que ocorreram na infância constituinte mental e inconsciente do indivíduo.

O ponto que quero tirar de tudo isso é: Talvez estes sentimentos experimentados de separação, angústia, nada mais são que um efeito intrincado de causas longínquas, que estavam presentes em um tempo que não podíamos refletir e digerir bem certos momentos emocionais, e que de alguma forma ficaram eternizados numa certa sensação de mal estar e outras piores, variando com os diversos graus de constituição e genética pessoal, e da formação de cada Inconsciente, único e abundante de significações e simbolismos.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Se tivesse um filho, ele seria um “Avatar”...


Se tivesse um filho, ele seria um “Avatar”...

É nesta dimensão que inicio este texto e esta prescrição de Vida. Pois a nossa, no mundo de hoje, está obsoleta.

Para ultrapassar a obsolescência de nosso teatro vital do dia-a-dia, é bom nos atentarmos às mais diversas artes e aos mais diversos estilos de vida, para podermos enxergar um pouco além e ir em direção ao nosso “Eu” verdadeiro e “absoluto”.

O Cinema como arte, talvez seja o modelo mais profícuo para se atingir um grande público mundial “de uma só vez”. E o filme Avatar _ atual modelo mais bem sucedido de uma obra de arte de mais alta tecnologia_ mobiliza uma série de questões fundamentais da modernidade, e tem um poder que ultrapassa as linhas da tela 3D.

Além de ser um divisor de águas da história do cinema, certamente o que ele nos provoca é uma sensação de estarmos participando em conexão com algo grandioso.

Através do uso da própria tecnologia, inerente à própria manufatura do filme, “Avatar” nos comunica, através do que poderia se dizer uma meta-linguagem, sobre as discrepâncias do uso irrestrito de nossa capacidade de “conquistar”, de nossa ambição desenfreada e de desbravar e assim destruir novos territórios...

O cinema ocupava um campo em que, há uns anos atrás, cuidava apenas de passar mensagens de maneira a fortalecer o “equipamento” desgregário do ser humano, principalmente dos americanos, fortalecendo a ideia e a crença de que os americanos eram os mocinhos virgens desamparados e o resto do mundo eram os inimigos nº 1 dos mesmos.

O que vemos hoje é uma possível retratação em relação a essa fonte inicial de manipulação. O Mal que assola hoje a humanidade é muito mais dissolvido e menos visível em suas origens internas, pois está lá, na mente de todos Homens.

É talvez, um modismo, dizer que estamos caminhando a uma maior consciência. A minha impressão é que existe uma pequena parte da humanidade que esteja indo em direção a uma maior consciência.
E parte do que vemos no filme Avatar, é uma sutileza popular em forma de tecnologia em sua mais alta perfeição, que atinge o âmago das questões atuais.

Em um tempo sem precedentes que vivemos, temos o desgosto ou o privilégio de podermos encarar um momento único da história humana. A sua profunda conscientização é praticamente um dever e uma responsabilidade. Ou então, a sua destruição, que já está caminhando a passos largos.

Como vamos participar deste único e talvez último chamado?

Já estamos em um mundo em 3º Dimensão, resta-nos usar a faculdade de pensar, talvez pela primeira vez.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

***LUTO*** - O Haiti é AQUI!


Quando não temos palavras para descrever tamanha tragédia, nem mesmo a quem culpar certamente, resta-nos a dúvida... a dor....


sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

A Dança e a Vida


Olá, amigos, hoje vou postar um texto escrito pela Fy, amiga virtual, do blog:

http://windmillsbyfy.wordpress.com/

Ela lança palavras para fecundar a harmonia entre Corpo, Ritmo, Dança, Vida e Imaginação...




A Dança e a Vida

- e.... que apresente linhas

mutantes “sem fora nem dentro, sem forma nem fundo, sem começo

nem fim, tão viva quanto uma variação contínua” -

Quando um corpo dança, abre-se para captar as mais finas vibrações , ele ativa sua sensibilidade, seus sentidos, para atrair a energia do mundo, de uma forma sutil, leve, que o faça transportar a novas passagens.

Quando um corpo dança , comunica-se com suas ausências e com seus silêncios, dá-se contorno : e, assim , potencializa o surgimento de novos corpos.
Isso o coloca numa outra dimensão temporal.
Colocar tempo no corpo pode significar abri-lo ao regime do sutil, ao devir imperceptível, às velocidades e lentidões, às pequenas percepções e ao vir a ser: Viver é como Dançar.

- Uma vez que se tenha encontrado a si mesmo é preciso saber, de tempo em tempo, perder-se. ... e depois reencontrar-se: pressuposto que se seja um pensador. A este, com efeito, é prejudicial estar sempre ligado a uma [ só ] pessoa. - [ em si-mesmo]

Nietzsche

Aceitemos a sugestão de Nietzsche.
Não sem antes oferecermos sobre ela uma certa : resistência.

E é porque acatamos, ao mesmo tempo em que resistimos, que o movimento se inicia e vemos surgir uma dança. Tal qual a Vida.

Dança que se faz de ampliações e recolhimentos, de aceitações e de resistências.

Se assim não fôsse, não haveria o surgimento do balançar que nos revela através de sua coreografia nascente, um novo ritmo, novas formas que acolhem e expressam transformações ocorridas, fruto de consentimento e ao mesmo tempo de violação exercida sobre esse corpo que dança. Ou que vive.

Vemos nesta dança a expressão de forças que obrigam esse corpo a ampliar-se, a recombinar seus elementos, a flexibilizar-se, a dizer “Sim”.

Forças que o fazem proteger-se, encorujar-se sobre si mesmo, endurecer-se, resistir aos apelos, dizer “Não”...

Balanço, dança, ritmo: Vida.

Não há Vida sem este movimento que ora recai do lado das forças que buscam Expansão.

Introduzimos a metáfora da dança, expressão desse movimento, para que possamos melhor visualizar o ritmo, o balanço que compõem a nossa própria existência como seres humanos.

Assim, um pouco mais entregues a este balançar, vamos dele nos aproximando, a fim de que possamos melhor observar as forças que o originam.

Didaticamente, seria bastante sedutor que pudéssemos separar estas forças em dois grupos distintos: um deles relativo ao Movimento de Retração e Recolhimento e o outro, relativo aos Movimentos de Expansão.

Mas, infelizmente, somos logo levados a não fazê-lo, pois não há intervalo suficiente entre eles que nos permita congelá-los em uma imagem estática e rígida.

O que há, , é “ritmo” : que fala de um Vai – e – Vem imperceptível, onde o movimento de ida , “já requer” : reclama o de volta.

Assim, o movimento de retração é sempre um apelo de suplemento ao movimento de expansão e vice-versa.

Isso nos permite afirmar que não há como privilegiar um polo, menosprezando o outro.

Os dois são absolutamente necessários à manutenção da Vida: o instituido, o mesmo, o reconhecível,o permanente, de um lado, e, do outro: o: “a ser instituído”, o devir, o novo, o diferente. [ o desconhecido ]


Fy

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Teatro : Um leigo em “Suspensão”


Uma mistura de influências de atos artísticos das mais diversas ordens: Shakespeare, Quentin Tarantino, Saramago, Nietzsche. Assim é a minha sensação, reflexão de um leigo em Teatro. A Peça em questão é Suspensão, da “Trupe Acima do Bem e do Mal”, grupo de Ribeirão Preto, com texto escrito por Lucas Arantes e dirigido por Mateus Barbassa, com o elenco: Fernanda Lins, Davi Tostes, Ademir Esteves, Maria Angélica Braga, Lucas Chaves.

Realmente, o efeito da obra fica em suspensão. Do grau de aturdimento deixado no Inconsciente, o “Consciente” fica tentando amalgamar ideias em torno da causa que gira no decorrer da peça.

As texturas experimentadas são de temperos com odores variados, como as sensações noturnas que costumam nos tragar, sensações inquietantes e angustiantes, em torno do motivo principal da peça que é um mundo sem ninguém, só o Avô, o ELE e o ELA. É a necessidade intrínseca à vida que é a necessidade da existência do Olhar do Outro.

Nomeado pelo diretor da peça como de influência do Pós-Dramático, o mundo espelhado no palco é de uma morte em busca da vida, ou a vida em busca de uma morte... O impacto do silêncio, da falta de motivos pelo qual se mover, se motivar e se esperançar...

O constante apagar das luzes em momentos-chave e a repetição de falas e cenas nas cenas, dão um aspecto cinematográfico à peça.


Quem quiser saber mais, acesse

www.lucasarantes.wordpress.com

domingo, 22 de novembro de 2009

Os sonhos e os alpinistas de ilusão


Esta noite tive um sonho:

Pela grande barba caída do pai, subia um menino em miniatura, isto é, um homenzinho do tamanho de um dedo mindinho. Escalava sua braba barba quase como um alpinista, ou um nadador subindo a cachoeira em vez de descê-la. Ele perpassava pelos pêlos misturados de cor branca e acinzentados, como se fossem águas banhadas por um sal grosso que estava já há muito tempo cristalizado por lá. Do queixo de seu pai, ele avançava pelo rosto endurecido, como um sabotador de formas, ora penteando flagelos de nariz, ora plantando espinhas com suas sementes de suor. Sabia que o caminho era tortuoso, salinizante, uma rivalidade que tomava conta do menino e do pai, principalmente quando espirrava, impedindo que o filho subisse ao topo, e assim sem delongas, visse que o mundo de cima é mais árido do que o cantinho das formigas.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Tecnologia, música e senso estético na modernidade (II)


Olá, segue link de novo artigo publicado no site e revista Luz & Terra. É o texto que está aqui já, mas revisitado, e mais completo, abrangendo a tecnologia em geral. Abrs!



domingo, 15 de novembro de 2009

Geyse e o Feminismo e o Masculinismo


Muito já se falou do caso Geyse e de suas repercussões. As interpretações sobre o fato e sobre qualquer “algo” da Vida consciente ou inconsciente são sempre infinitas.

Márcia Tiburi, filósofa, discorreu suas visões sobre o ocorrido. Na esteira do que ela falou, refleti sobre o assunto, e vou tentar me aproximar de algo que acho que tem um certo frescor. Para resumir, ela disse, comentando sobre o caso, que naquela universidade em que os fatos se desenrolaram, o que havia era uma espécie de rivalidade que se escondia por trás das ações dos “homens” presentes lá. Concordo com ela. A maneira que a garota estava vestida, com uma roupa extremamente sensual, era de alguma forma perturbadora para eles. Era o desejo inconfesso de “ser ela”. Era uma inveja latente do poder sensual feminino frente aos homens e às pessoas em geral.

Pensando um pouco além, o movimento feminista, a meu ver, sempre traçou um modelo de feminilidade de certa forma masculino, reclamando elas para si o direito de ter o que já é de fato da mulher: o lado masculino de sua personalidade. É certo que houve um certo exagero em tal movimentação, mas elas conseguiram externar o que já era algo que existia no íntimo feminino.

Os homens e sua masculinidade sempre foram perturbados e conflitados com seu desejo e com sua sensibilidade. Sempre com um certo pudor de demonstrar o lado feminino ou “sensível” de sua personalidade, que também é inerente ao ser Homem.

Para encontrar pistas do que eu estou tentando digerir, podemos pesquisar um pouco Freud, que nos fala sobre as vicissitudes e às voltas do Complexo Edípico, mais precisamente na Fase de Latência, onde o homem durante este período, está em fase de elaboração inconsciente das estruturas de relacionamento erótico ( as formas como iremos nos relacionar ). Um grande complexo em massa poderia estar girando na mente daqueles “Kids” na universidade.

Mais pistas são encontradas ao revisitar Jung. Na psique masculina, segundo ele, existe um fator, uma estrutura virtual inconsciente, que vem do inconsciente coletivo, dita procedente da imagem da mulher. Esse conceito, denomina ele ser a Anima. É como se fosse uma predisposição subjetiva em sua psique. Precisamente diz Jung, em seu livro “O Eu e o Inconsciente”: “Em última instância, consiste numa estrutura psíquica inata, que permite ao homem ter tais experiências. Assim, todo o ser do homem, corporal e espiritualmente, já pressupõe o da mulher. Seu sistema está orientado a priori para ela, do mesmo modo que para um mundo bem definido, em que há água, luz, ar, sal, hidratos de carbono, etc.”

Jung completa: “Reside aqui, sem dúvida, uma das principais fontes da qualidade feminina da alma. Mas, ao que parece, não é a única fonte. Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. O fato é que precisamente os homens muito masculinos possuem (se bem que oculta e bem guardada) uma vida afetiva muito delicada, que muitas vezes é injustamente tida como "feminina". O homem considera uma virtude reprimir da melhor maneira possível seus traços femininos. Analogamente, a mulher, até há pouco tempo, considerava inconveniente ser varonil. A repressão de tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente. A imago da mulher (a alma), torna-se, com a mesma naturalidade, o receptáculo de tais pretensões; por isso, o homem, em sua escolha amorosa, sente-se tentado a conquistar a mulher que melhor corresponda à sua própria feminilidade inconsciente: a mulher que acolha prontamente a projeção de sua alma. Embora uma escolha desse tipo possa ser considerada e sentida como um caso ideal, poderá também representar a opção do homem por seu lado fraco. (Isto esclareceria muitos casamentos estranhos)”.

É óbvio que este conflito é mais complicado aos homens, pelo velho apelo cultural a que estão enovelados e ”submetidos”. Me pergunto aqui se não existe um desejo latente, prestes a explodir, de um movimento que diria, poderia se chamar Novo Masculinismo, onde os homens requereriam seu direito a uma certa sensibilidade em face à cultura e à sociedade?

domingo, 1 de novembro de 2009

Música e Senso Estético na Modernidade


Na sociedade contemporânea atual há a tendência em valorar aquilo que acima de tudo é extremamente objetivo e sintético. Não há muito espaço para o subjetivo.
Na música atual acontece o mesmo. A máscara que o mercado fonográfico colocou e todo o mercado e indústria ligados à música, é de um lugar de um falso senso comum, onde o que se interpõe entre mídia e indivíduo é uma robusta molécula de relação instintiva de marketing, encantamento pelo trivial e enovelamento capitalista.
Um exemplo: Os vídeo-games atuais assumiram no momento o papel de intérpretes do mundo real, seja através de jogos de guerra, assassinatos em massa, e também em uma tradução estética pejorativa da música. Um exemplo disso é capitaneado pelo jogo de vídeo game “Guitar Hero”, que implementa e cria uma superficialidade musical na cabeça das pessoas. As crianças não podem ser culpadas por tal fato, (já que são as principais a utilizar os jogos) dado que são facilmente despojadas de senso crítico. O subterfúgio do jogo é o de possibilitar uma fácil apreensão da música, e simular assim o tocar de um instrumento.
Tais condições estéticas não geram nas pessoas a capacidade e a condição de criar e de apreciar uma determinada arte de uma forma subjetivamente mais saudável.
É um empobrecimento cultural determinado pelo extremo apelo do mundo externo e objetivo.
Mentes ávidas por mais calor e sentimento humano podem somente flutuar em mares flácidos como esses.
A beleza do mundo subjetivo consiste em superar as dificuldades do mundo objetivo e protagonizar uma potencialização do mesmo.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Publicações pela Net

Olá, pessoal,
Segue links de textos meus publicados recentemente em sites e blogs da internet...
Abrs...

http://www.nucleotavola.com.br/integra.php?integra=127 - Resenha na Revista Távola sobre o livro "A Hora da Estrela" -Clarice Lispector – Entre a Ficção e a Realidade.

http://www.nucleotavola.com.br/integra.php?integra=1 - Pequeno Artigo publicado no Site do Núcleo Távola : Budismo e Psicanálise: Um caminho possível ?

http://www.luz-e-terra.com.br/diversao/materia.php?id=84 - A Arte da Sublimação

http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2009/07/a_arte_da_subli.html - A Arte da Sublimação

http://recantodasletras.uol.com.br/contosdefantasia/1836508 - Conto - O Pulo do Gato em Chamas

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Complexo de Afinidade


Complexo de Édipo, Complexo de Castração, Complexo Materno, Complexo de Inferioridade, até Complexo Adiposo estão dizendo por aí... Complexo, complexo, completo... Completo aqui mais uma etnia complexual moderna: Complexo de Afinidade.

Esse, como todos os outros nos ajuda a identificar uma coisa: Somos todos complexados mesmo. E complicados. E nem é para menos. Somos “obrigados” pela Cultura a nos mantermos felizes, disciplinados, antenados, e muitas vezes até alienados.

Somos coisificados pelo sistema.

Resultado: Preocupação, ansiedade, depressão.
Rememorando o comodismo cultural, um fantasma vem e nos diz : Tenha a Santa Afinidade!

Nesse microcosmo de uma cabeça só, penso que apesar de estar na moda hoje em dia essa coisa de afinidade, isso sempre foi uma boa maneira de nos relacionarmos uns com os outros, tendo afinidades.

É importante para o casamento dar certo, para a amizade, etc. Mas importante mesmo é estarmos atentos para uma coisa que usualmente acontece na nossa geração. Qualquer não-afinidade que ocorra em um relacionamento deixa um ou outro atônito, e cai toda aquela máscara de idealização. É sabido em Psicanálise que a idealização é um dos principais mecanismos de defesa do ser humano. Mas é preciso idealizar para viver. Há de que se ouvir a voz da Afinidade, mas é bom e saudável que tenhamos êxito ao enxergar as diferenças e não obturá-las a nosso contento, prejudicando assim o relacionamento.

Existe aquela velha máxima que diz: “Os opostos se atraem”. Não sei se atraem mesmo. Procuramos um pouco de nós mesmos no outro. Mas também buscamos o complemento. O que não queremos é a aporrinhação do que é discordante, conflitante, desarmônico, que são coisas que realmente existem em qualquer tipo e nível que se tenha chegado um relacionamento.

Parece haver um tabu hoje onde o diferente é arma que dispara sozinha. Fique alerta e fique na Sombra! Porque se o Sol te pegar meu filho, ... , Ahhh... Lá pelas tantas o Mar de Rosas vai secar...

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Miró e a Composição e Fragmentação do Eu


Miró, reconhecido pintor da Espanha, através de suas pinturas modernas, explorava sua cáustica natureza interna. E em períodos de guerra, expressava o drama, o horror, através de incríveis pinturas, cuja estética elaborava uma dor que podia assim ser diluída em cores.

Uma de suas obras, intitulada "Composição", retratou uma natureza fria, de ausência, deixando a interpretação a cargo do espectador.

Tal pintura surgiu próxima a um período chamado de "Assassinato da Pintura", na qual eram pinturas baseadas em colagens de objetos recortados de jornais, revistas.

A economia cromática realçada nesta obra especificamente pode vir a ser um apanhado de figuras distorcidas, retorcidas de um corpo fragmentado. Em meio a um fundo degradado e frio, semelhante a um Inconsciente desabitado, Miró desdenha da realidade.

Sob a influência do movimento surrealista, Miró permitia-se ao mesmo tempo ser afetado pelo surrealismo, e também se desvincular de qualquer identificação última com qualquer movimento ou postura.

Nesta obra "Composição", com o título contrastando com seu significado talvez, a interpretação vai em torno de uma fragmentação de um "Eu" perante as vicissitudes do mundo.

A Fragmentação é um conceito utilizado em Psicanálise para descrever a situação de um indivídulo perante uma divisão de sua personalidade, consubstanciando uma identidade fragmentada.

As figuras no quadro são interpostas, com membros em pedaços, figuras parecendo a ossos, machados, com um contraste de cores entre o branco, preto, e o vermelho que talvez mostra o sangue em meio a tudo.

O que queria Miró nos mostrar?

Algo relacionado a uma inteireza de um "Eu" que foi desagregado pode ser a resposta.

As particularidades de uma dissociação de tal monta é pensada na Psicanálise por alguns conceitos.

Armando Colognese Jr. em seu livro "A trama do equilíbrio psíquico", manifesta a ideia de momentos da vida de um indivíduo que são marcados por distúrbios psíquicos onde a Pulsão de Morte (conceito Freudiano, exemplo cujo objetivo desta Pulsão é desfazer ligações psíquicas) domina a Pulsão de Vida, de modo que "a Pulsão de Morte toma emprestada a Pulsão de Vida e passa a controlá-la, ou dito de outra forma, a pulsão de vida está a serviço da pulsão de morte. libidinizando-a."

Rosenfeld descreve esse funcionamento mental semelhante a uma gangue mafiosa.

Os objetos no quadro de Miró, por estarem em um período em que ele pintava de guerras e conflitos, talvez queiram salientar que para haver o Outro, tem que existir um "Eu" primeiramente. Ou mais além, significa o não enxergar o outro, por haver esse "Eu" deformado em nós mesmos. Pois nos conflitos exteriores ninguém enxerga o Outro, seu próximo.

terça-feira, 21 de julho de 2009

A Medida da Sublimação

Ato concreto ou proferir desejos sem objeto?
Posso as palavras aqui medir?
Ou atitude desmedida preferir?
Por favor, me diga
Quais fatos tu queres ouvir?
São ou embriagado
Sansão matou o leão pardo:
Não são palavras malditas
Palavras eruditas
São palavras ainda não ditas

Ditongo ou Tritongo
Eis a questão
Prosear frases sem tesão
É como transar sem dizer palavrão
Sublime a vida
Sublima a ação
Verter este sangue em vocábulos
Põe meu mundo em rotação


segunda-feira, 13 de julho de 2009

Religião e Linguagem

Deus.
O que essa palavra significa para você?
Para você e para muitos ela significa algo grandioso, acima do bem e do mal, e uma gama muito variada de significados, dependendo dos significantes despertados, e do que cada sujeito acredita ou atribui à Deus.
Segundo o Dicionário Brasileiro Contemporâneo de Francisco Fernandes, Deus é um Ser supremo, infinito, perfeito, criador e conservador do universo, a causa necessária de tudo o que existe; Divindade.
Assim como essa palavra específica, cada palavra da nossa língua e de outras, contém uma quantidade de significações que depende do sujeito e sua subjetividade na percepção da vida e da linguagem que sempre o circundou. Cada palavra costuma denotar ou conotar algum sentido. Denotar é mostrar, anunciar por certos sinais, significar, simbolizar. É o sentido literal de alguma coisa.
Conotação é o conjunto de caracteres compreendidos na significação de um dado termo, conceito, etc. Além do sentido referencial, literal, cada palavra remete a inúmeros outros sentidos, virtuais, conotativos, que são apenas sugeridos, evocando outras idéias associadas, de ordem abstrata, subjetiva.
E em se falando de religião, tudo que aparece nela na maioria das vezes tem um sentido conotativo. Toda religião e o próprio sentido de religião tem um problema sério com a linguagem. Ou porque é rebuscada e cheia de metáforas ininteligíveis para um público “leigo”, ou porque permanece uma linguagem “agridoce” onde os conceitos permitem distorções das mais variadas e escabrosas.
Isso tudo acaba por alimentar preconceitos, não simplesmente por as religiões causarem alienação nas pessoas ditas “religiosas”, mas por causa de que as religiões possam estabelecer falsos conceitos nas cabeças das pessoas.
É preciso separar o joio do trigo.
Os textos religiosos tentam apontar o “dedo” para uma realidade que é o Desconhecido, o incognoscível. E isso é difícil, senão impossível.





Crenças e sofrimentos insalubres

Minha cabeça coroada de espinhos
Meu Deus
Não é igual à Sua
Lavagem cerebral
Não faz espuma

Brilhante é a água do mar
Que iluminada pelo Sol,
Rei maior
Não carece de pompa
Nem de erguer um altar
Desta água não preciso beber
Desta água não preciso provar

domingo, 28 de junho de 2009

A Arte da Sublimação

No pequeno recôndito da sala, o maestro delineia e imagina em sua mente e “alma” sua próxima composição. Neste exemplo de fértil criação, o artista compõe com o véu e linguagem extraídas de conhecimentos cognitivos de música, e de sua relação com sua alma e seus sentimentos, o extrato de algo que se transformará em algo “semi-palpável” de rara beleza e abstração, que entrará em contato com outras subjetividades de outras pessoas, liberando emoções, sensações e sentimentos únicos compartilhados.

Sublimar é uma Arte? Ou fazer “Arte” é sublimar?

Primeiro devemos nos perguntar o que vem a ser Sublimação e o que se desenha a partir da palavra Arte.

“Arte (Latim ARS, significando técnica e/ou habilidade) geralmente é entendida como a atividade humana ligada a manifestações de ordem estética, feita por artistas a partir de percepção, emoções e ideias, com o objetivo de estimular essas instâncias de consciência em um ou mais espectadores. A arte está por todos os cantos, pois não se restringe apenas em uma escultura ou pintura, mas também em música, cinema e dança. O ser que faz arte é definido como o artista. O artista faz arte segundo seus sentimentos, suas vontades, seu conhecimento, suas idéias, sua criatividade e sua imaginação, o que deixa claro que cada obra de arte é uma forma de interpretação da vida.” (Fonte : Wikipedia)

Com o advento da Psicanálise na Cultura, a "Arte" sempre é citada como algo simbólico da Sublimação. Às vezes é até confundida com a própria Sublimação.

Freud criou a noção de Sublimação a partir da indicativa de que para existir a civilização houve a "necessidade" de sublimar os instintos.
Segundo Teresa Pinheiro, em seu artigo sobre a “Sublimação e idealização e a pós-modernidade” (http://www.geocities.com/hotsprings/villa/3170/TeresaPinheiro.htm), Birman diz que a sublimação na obra freudiana tem o "estatuto de passagem" funcionando sempre como argumento para demonstração de um outro conceito. Ou seja, Freud jamais construiu uma teoria da sublimação".
Vamos nos ater aqui nesta exposição com ênfase à questão da sublimação da pulsão sexual. A definição de sublimação dada por Freud em 1914 é a seguinte: "A sublimação é um processo que concerne a libido de objeto e consiste no fato de que a pulsão se dirige para um outro objetivo, distante da satisfação sexual; o que é acentuado aqui é o desvio que distancia do sexual".

Freud, usa a Sublimação para designar a mudança de um estado psíquico para outro através de uma “transformação” de uma certa pulsão, a pulsão sexual. A sublimação é algo simbólico de “quando se consegue intensificar suficientemente a produção de prazer a partir das fontes do trabalho psíquico e intelectual”. Segundo ele, tais satisfações parecem mais refinadas e mais altas. Como diz ele em seu livro “O Mal Estar da Civilização”, que, a intensidade da sublimação “se revela muito tênue quando comparada com a que se origina da satisfação de impulsos instintivos grosseiros e primários; ela não convulsiona o nosso ser físico”.

Diz ainda : “A sublimação do instinto constitui um aspecto particularmente evidente do desenvolvimento cultural; é ela que torna possível às atividades psíquicas superiores, científicas, artísticas ou ideológicas, o desempenho de um papel tão importante na vida civilizada. Essas pessoas se tornam independentes da aquiescência de seu objeto, desviando-se de seus objetivos sexuais e transformando o instinto num impulso com uma finalidade inibida.”

Freud, em seus raros momentos de real dúvida, fala sobre a sublimação e a pulsão sexual: “Às vezes, somos levados a pensar que não se trata apenas da pressão da civilização, mas de algo da natureza da própria função (sexual) que nos nega satisfação completa e nos incita a outros caminhos. Isso pode estar errado; é difícil decidir.”

Acredito que a atividade artística é aquela em que há um acesso controlado de conteúdos do próprio inconsciente, inconscientemente, havendo quase que uma passagem sublime de uma instância à outra.

Para Jung, que foi quase ao mesmo tempo grande afeto e desafeto de Freud ao longo de sua vida, ele não se harmoniza em relação à idéia de Freud da sublimação. No seu livro “A Natureza da Psique”, mais precisamente no capítulo “Psicologia Analítica e Cosmovisão”, Jung fala de sonhos, repressão, arte, e sintomas: “Em si, o sonho é uma função normal que pode ser perturbada por represamentos, como qualquer outra função. A teoria freudiana dos sonhos considera, e até mesmo explica, os sonhos exclusivamente sob este ângulo, como se nada mais fossem do que meros sintomas. Outros campos da atividade do espírito, como sabemos, são tratados da mesma maneira pela psicanálise — por exemplo, as obras-de-arte. Mas é aqui onde penosamente se manifesta a inconsistência desta teoria, pois uma obra-de-arte não é um sintoma, mas uma genuína criação. Uma atividade criativa só pode ser entendida a partir de si mesma. Mas se ela é considerada como um mal-entendido patológico, que é também explicado como uma neurose, a tentativa de explicação em breve assume um aspecto lamentavelmente curioso.”


Em relação à beleza abstrata da arte e de outras tantas atividades humanas, Jung remete tudo isso à uma força criadora e propulsionadora existente em todos nós. Diz ele: “Se atribuímos uma poesia de Goethe a seu complexo materno, se procuramos explicar Napoleão como um caso de protesto masculino e um São Francisco de Assis como um caso de repressão sexual, apodera-se de nós um profundo sentimento de insatisfação. Esta explicação é insuficiente, não faz justiça à realidade e ao significado das coisas. O que são, afinal, a beleza, a grandeza e a santidade? São realidades de suma importância vital, sem as quais a existência humana seria tremendamente estúpida. Qual é a resposta correta para o problema de tantos sofrimentos e conflitos inauditos? A verdadeira resposta deveria tocar uma corda que nos lembrasse pelo menos a grandeza do sofrimento.” Ainda completa: “Presenciei muitos casos em que fantasias sexuais anormais desapareceram súbita e completamente no momento em que uma idéia nova ou um conteúdo novo se tornaram conscientes, ou em que uma enxaqueca cessou inteiramente de repente, assim que o enfermo se tornou consciente de um poema inconsciente.”

Logo depois, ele fala algo que acho de maior importância:

“Da mesma forma que a sexualidade pode exprimir-se impropriamente através de fantasias, assim também uma fantasia criadora pode exprimir-se impropriamente através da sexualidade.”

Podem ser considerados atos sublimados, além da criação artística propriamente dita, o trabalho e até o lazer, por que não? O prazer obtido no lazer pode ser considerado um prazer substituto à um prazer sexual ? Acho que pode ser considerado um prazer de “ordens” ou de qualidades diferentes, assim como é prazeroso e diferente se apreciar um cheiro de um incenso, ou se comer um chocolate ao invés de uma pizza, se ouvir rock ou um bom jazz. Tudo vira uma questão de qualidades de ordens diferentes.

O ser humano é dotado de uma série de potencialidades que se desdobram da possibilidade e exclusividade única e inequívoca de se obter prazer via sexualidade. É verdade que o conceito de sexualidade para Freud tem uma conotação ampla, e não podemos nos enganar ou fantasiar sobre isso de maneira inapropriada. O próprio ato de comer pode ser considerado algo vinculado à sexualidade. Mas devemos refletir sobre o assunto e nos perguntar se não é algo profundo pensar se somos somente obra de um instinto de vida interessado apenas em nos propagar, nos remetendo sempre à necessidade sexual, como se qualquer outro prazer ou ato fosse apenas uma benesse disponível “substitutiva” para mitigar o instinto e as pulsões sexuais sempre presentes.

Segundo o psicanalista Luís Fernando Scozzafave (blog Sinapse Oculta) “A Pulsão sexual não apenas vai ser dirigida para a reprodução e para o ato sexual em si. Há a dinâmica de: 1- Encontrar o “alvo” , 2- Descarregar a energia (Libido) 3- Repouso”.
Então, essa libido ora descarregada, ora não, encontra modos de se veicular através de outros meios.

É certo que muitas de nossas ações são investidas de libido, de um certo teor vindo da sexualidade. É tudo de alguma forma erótico, um instinto de Eros. A arte é de alguma forma erótica também.

No tocante à fantasia criadora dita por Jung, quando exprimida através da arte, pode assumir uma variada gama de possibilidades. Aí vem uma pergunta difícil: O que pode ser considerado Arte?

O móvel rústico de seu quarto pode ser uma obra de arte. A invenção da roda pode ser arte. Até mesmo o modo que o vendedor de biju no trânsito arranjou para atrair seu cliente pode também pode ser arte. Isso é subjetivo. Bocato, um grande trombonista brasileiro disse uma vez de forma humilde: “Um dia espero estar fazendo arte”.

A Arte não se restringe na sua “arte final”, no seu “objeto” idealizado final. Vejamos por exemplo um belo edifício moderno projetado por um arquiteto junto ao seu engenheiro responsável. A capacidade do engenheiro fazer complexos cálculos com parâmetros extremamente racionais pode ser a fundação para uma obra de arte. Energia sublimada pelo arquiteto em sua criação, e o prédio, em seu acabamento, lapidado pela tinta misturada pelo auxiliar de manutenção, é tudo um processo. A arte ou atividade dita “sublimada” é um processo em que toda a civilização e cultura está envolvida.

Apesar disso, muito se discute o valor da arte na contemporaneidade. Talvez porque há de se temer seus conteúdos. Dizem que ela, em suas diversas expressões (música, obras, ciência, literatura, pintura, poesia, etc) é supérflua, isto é, que não existe para nossa sobrevivência. É certo que para sobrevivermos e bem, talvez precisemos de muito além de pão. Precisamos de pão e circo. Nossos “instintos” nos obrigam... Nós precisamos de sexo, carinho, amizade, sermos reconhecidos entre nossos pares, precisamos de descanso, de deslumbramento, e de surpresa. (Nosso cérebro é comprometido com a possibilidade de existência de surpresas, é inato ao ser humano essa necessidade).

Difunde-se a superfluidade da arte. Mas eu me pergunto se o verdadeiro sentido que podemos dar à vida é o de que somos todos “artistas” de alguma forma. (Quis dizer aqui, artistas no palco da vida, no sentido “bom” e amplo da palavra, não relativo a uma possibilidade inata caricatural de artista de 15 segundos de fama, ou relativo á necessidade ou carência narcísica na busca de afirmação em relação ao outro).

No nível sutil da vida, o que ocorre quase sempre é uma procura inexpurgável de se encontrar um outro, de se relacionar com o outro. De fazermos da vida um algo compartilhado.
O trabalho, como algo aferrado somente à subsistência, vira algo morno com sintomas de podridão. É preciso algo mais. E algo mais movimenta o homem em seus desejos. O vínculo ora desejado, ora rejeitado, tem como padrão a imensa necessidade de estarmos unidos, mesmo quando achamos que estamos sós.

Voltando à sublimação, os prazeres ou capacidades na vida podem ser mais simples do que se imagina. A capacidade de ver, enxergar, ouvir, pensar já pode ser considerada em seu princípio um ato sublimado ou sublimatório.

A energia instintiva para a realização da pulsão sexual é limitada em um determinado período de tempo e espaço, sendo assim, a energia psíquica é direcionada para várias atividades humanas. No fundo, a Arte tem uma conotação sexual. Tem, porque, não que seja usada como substituto da pulsão sexual... Tem conotação "sexual" porque tem o objetivo de Atingir o Outro. Faz parte do instinto de Eros, é erótico... Seria um "Nu Artístico”... Desnudar-se para o outro ver. Ou pode ser até auto-erótico se a arte ficar restrita ao olhar do criador.

Sendo o objetivo deste texto o de apenas refletir sobre o assunto, não convém chegar a conclusões finais, ou saturar os conceitos em construção.
Seguindo a pergunta inicial proposta aqui no início desta exposição, acho que todos nós “sublimamos” de alguma forma. Alguns mais, outros menos. Para finalizar, não podemos deixar de citar alguns tremendos “sublimadores” : Shakespeare, Beethoven, Paul McCartney, Fernando Pessoa, Buda, Gandhi, Ayrton Senna, Freud, Jung, etc, etc, etc...


Caio Garrido
www.caiogarrido.blogspot.com

domingo, 24 de maio de 2009

Fazer Análise - Uma experiência científica


Fazer análise, viver a psicanálise, estudar o inconsciente, ser trasnsformado por ele, transformar o inconsciente, se reinventar, tudo isso é uma experiência científica em si mesmo.

As teorias da psicanálise são algo em que podemos nos guiar para conhecer um pouco o humano e suas pendências com seus desejos.

Certamente, existem teorias científicas no mundo que podem ser demonstradas empiricamente. No caso das teorias psicanalíticas, o que emerge delas é algo mais complexo, pois elas mesmas se depõe umas contra as outras ou se complementam de alguma forma, apresentando vários nichos teóricos onde vários especialistas e analistas se reúnem em um determinado modelo para sedimentar experiências e guiar suas clínicas de acordo com alguns parâmetros condensados, para filtrar os significados e interpretações dos conteúdos e expressões do inconsciente. A Psicanálise é algo que tem que ser vivenciado em si mesmo.

Vivenciar o inconsciente na análise, nos sonhos decorrentes dela, nas rearticulações do passado no presente, é uma tarefa difícil pois envolve um encontro às vezes descomunal com o desconhecido. O desconhecido em si mesmo. Algo que sempre foi o indivíduo ou parte dele, mas que nunca verdadeiramente se apresentou a ele.

Fazer análise é ao mesmo tempo ser objeto e pesquisador de si.

Agora, ser analista é um assunto para uma outra conversa.