segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Indústria de imposição cultural

Ah, cansados de tanto conhecimento... Tanto conhecimento improdutivo... Onde a arte e a cultura não chegam até Deus. Fausto em novas facetas; As faces macabras da indústria cultural.

 Você prefere o ‘Funk Ostentação’, Funk Procriação ou a Mulher Chiclete? Que gruda em seus olhos e ouvidos e opera uma catarse emocional onde a única fonte e objetivo é o capital?
Que os antigos filmes futurísticos nos protejam. Pois o apocalipse agora é real e faz mais crentes por metro quadrado do que toda antiguidade.
Ver TV é o mesmo que ir ao cinema que é o mesmo que ir à igreja, que está na TV, que deus nos proteja, anuncia o último sucesso musical cristão.
Não tenho nada contra os evangélicos nem com os cristãos. Vejo até grandes atributos no que uma comunidade religiosa pode proporcionar a uma pessoa. Isto quando a coisa não é distorcida a um grau já definhado.
Mas tudo faz parte de um grande pacote da indústria cultural, que entorpecendo as massas, dita as regras e nivela por baixo o grau a ser superado para se atingir um padrão estético que seja o suficiente para manter uma sociedade hiper-estimulada, induzindo a velha fábrica de seres não pensantes.
E cada vez mais temos que nos voltar para a tela do computador – infelizmente – para que possamos ter uma experiência de qualidade, como assistir a um bom filme – fugindo da legião de iguais nas telas grandes – ou ler uma opinião jornalística aprofundada, ou simplesmente ter o prazer de saber que existe boa música por aí. Mas isso sempre com muita pesquisa, pois não se consegue descobrir o benéfico e distinto em meio à imensa malha da rede virtual.
Em meio a essa virtualidade, o que pode ser considerado arte vai se tornando cada vez mais banal e aberto a qualquer critério.
Mas o que é vida senão uma grande banalidade? A televisão se tornou metalinguística, ora pois; Ou foi a vida? Reality shows; “O show da vida!”
Que o Show de Truman nos proteja.

A arte e a cultura deveriam ter o poder e capacidade de ampliar o campo de visão de um sujeito, e não estreitar sua possibilidade de ver, ouvir, sentir, pensar. A sutil Banalidade do Mal.
Bem ou mal, o fato é que o cinema, ou a arte contemporânea, ou a música, ou o jornalismo (vide o anúncio de fechamento de grandes revistas nacionais de cultura) e outros, tornam-se cenários de grandes torturas pra quem gosta de arte. É como se todo o ‘lixo eletrônico’ da sua pasta SPAM viesse à tona a todo o momento.
Estes lócus artísticos vêm se tornando palco para as pirotecnias da indústria cultural, que tal qual vendedor de uma nova gramática, se aprofunda em fazer o que sabem de melhor: Marketing, propaganda. Pois vivemos numa sociedade em que fazer merda ao vivo no youtube é sinal de criatividade, bom gosto e dom divino.
Mas merda não é privilégio do youtube. Haja vista uma recente exposição na respeitabilíssima Royal Academy of Arts. Os detalhes sobre a peculiar exposição estão descritos no livro “A Civilização do Espetáculo” de Mario Vargas Llosa – Prêmio Nobel de Literatura em 2010. Mario fala sobre a obra de um jovem chamado Chris Ofili, que monta suas obras sobre bases de cocô de elefante solidificado. Esta e outras do rapaz deram o que falar na exposição, pois o que vale hoje é gerar publicidade.

E os intestinos estão soltos e atingem a todos...
Tenho bons amigos que já estão acreditando que deve ter um pouco de arte no funk ou no sertanejo universitário, afinal, eles representam o gosto popular.
Quem se lembra do Saltimbancos, estouro de sucesso na época gloriosa dos Trapalhões? Ou o Plunct Plact Zum, programa especial infantil exibido na década de 80? O que o popular daquela época difere desta? A trilha sonora desses antigos programas e filmes é detalhista na resposta: Maria Bethânia, Chico Buarque, Raul Seixas, Elba Ramalho, trazendo músicas populares que até hoje fazem parte do nosso dicionário de lembranças.
Pois fui então a outro dicionário e encontrei o significado não de popular, mas de popularesco. O que é popularesco: “Baixo calão, má qualidade, qualidade duvidosa. Que é vulgar ou de baixa qualidade. Que imita o que é popular.”
Prefiro acreditar neste velho oráculo.



Caio Garrido

2 comentários:

Guilherme Machado disse...

Muito bom Garrido ! Aguardaremos teus novos textos. Você tem muito a dizer.

Caio disse...

Ok Guilherme! Obrigado. Abrs!