“Mostra tua força Brasil!”

Era 12 de junho: Todos com os corpos besuntados de verde
amarelo, louros com um arsenal de badulaques, rixas avivando-se, xingamento aos
representantes, mãos agitando-se com ingressos de ouro e origem duvidosa, ao
ritmo das batucadas imaginárias e vozes em coro: “Com muito orgulho com muito
amor”; O astral lá nas alturas das grandezas que nos projetamos.
Aos 10 minutos: Gol contra. Um 1º gol irrepresentável,
num jogo que deveria ser inesquecível. Um prenúncio daquilo que já correspondia
ao nosso grito bege?
Era preciso acreditar, ter fé no brasileiro. Mas
outras contradições foram aparecendo na jornada: Sou aquele que xinga ou o que
permite a existência de meu rival? Sinto-me identificado àquele que rouba, mas
faz? Devemos nos espelhar nos europeus ou no nosso avesso sul-americano?
No campo, um Brasil de pijamas, envelhecido por um
vazio de identidade.
O futebol é apenas um jogo, diziam, para minimizar a
frustração.
Mas é preciso falar de uma crise de identidade no
brasileiro. O quanto o futebol deflagraria isso?
O futebol, como fenômeno global e respectiva paixão
envolvida, é história de uma nação e sua relação com o outro, e do comportamento
em relação às suas dores e lutas.
Uma derrocada acachapante selou o destino final da
seleção, deixando uma marca profunda em nosso narcisismo. Como diz a
psicanalista Betty Milan: “Será que a improvisação vale mais que o
planejamento? Por sabermos improvisar ou por sermos viciados na improvisação?”
Para evoluirmos nosso senso de identidade a cultura
não pode seguir estanque. Deve abarcar qualidades e exemplos de outras sem
perdermos a essência da nossa.
Estes acontecimentos, além das recentes manifestações,
mostram um chamamento para algo que não é mais possível ignorar. A indignação não
é com os políticos ou dirigentes, mas com nós mesmos.