Muito já se falou do caso Geyse e de suas repercussões. As interpretações sobre o fato e sobre qualquer “algo” da Vida consciente ou inconsciente são sempre infinitas.
Márcia Tiburi, filósofa, discorreu suas visões sobre o ocorrido. Na esteira do que ela falou, refleti sobre o assunto, e vou tentar me aproximar de algo que acho que tem um certo frescor. Para resumir, ela disse, comentando sobre o caso, que naquela universidade em que os fatos se desenrolaram, o que havia era uma espécie de rivalidade que se escondia por trás das ações dos “homens” presentes lá. Concordo com ela. A maneira que a garota estava vestida, com uma roupa extremamente sensual, era de alguma forma perturbadora para eles. Era o desejo inconfesso de “ser ela”. Era uma inveja latente do poder sensual feminino frente aos homens e às pessoas em geral.
Pensando um pouco além, o movimento feminista, a meu ver, sempre traçou um modelo de feminilidade de certa forma masculino, reclamando elas para si o direito de ter o que já é de fato da mulher: o lado masculino de sua personalidade. É certo que houve um certo exagero em tal movimentação, mas elas conseguiram externar o que já era algo que existia no íntimo feminino.
Os homens e sua masculinidade sempre foram perturbados e conflitados com seu desejo e com sua sensibilidade. Sempre com um certo pudor de demonstrar o lado feminino ou “sensível” de sua personalidade, que também é inerente ao ser Homem.
Para encontrar pistas do que eu estou tentando digerir, podemos pesquisar um pouco Freud, que nos fala sobre as vicissitudes e às voltas do Complexo Edípico, mais precisamente na Fase de Latência, onde o homem durante este período, está em fase de elaboração inconsciente das estruturas de relacionamento erótico ( as formas como iremos nos relacionar ). Um grande complexo em massa poderia estar girando na mente daqueles “Kids” na universidade.
Mais pistas são encontradas ao revisitar Jung. Na psique masculina, segundo ele, existe um fator, uma estrutura virtual inconsciente, que vem do inconsciente coletivo, dita procedente da imagem da mulher. Esse conceito, denomina ele ser a Anima. É como se fosse uma predisposição subjetiva em sua psique. Precisamente diz Jung, em seu livro “O Eu e o Inconsciente”: “Em última instância, consiste numa estrutura psíquica inata, que permite ao homem ter tais experiências. Assim, todo o ser do homem, corporal e espiritualmente, já pressupõe o da mulher. Seu sistema está orientado a priori para ela, do mesmo modo que para um mundo bem definido, em que há água, luz, ar, sal, hidratos de carbono, etc.”
Jung completa: “Reside aqui, sem dúvida, uma das principais fontes da qualidade feminina da alma. Mas, ao que parece, não é a única fonte. Não há homem algum tão exclusivamente masculino que não possua em si algo de feminino. O fato é que precisamente os homens muito masculinos possuem (se bem que oculta e bem guardada) uma vida afetiva muito delicada, que muitas vezes é injustamente tida como "feminina". O homem considera uma virtude reprimir da melhor maneira possível seus traços femininos. Analogamente, a mulher, até há pouco tempo, considerava inconveniente ser varonil. A repressão de tendências e traços femininos determina um acúmulo dessas pretensões no inconsciente. A imago da mulher (a alma), torna-se, com a mesma naturalidade, o receptáculo de tais pretensões; por isso, o homem, em sua escolha amorosa, sente-se tentado a conquistar a mulher que melhor corresponda à sua própria feminilidade inconsciente: a mulher que acolha prontamente a projeção de sua alma. Embora uma escolha desse tipo possa ser considerada e sentida como um caso ideal, poderá também representar a opção do homem por seu lado fraco. (Isto esclareceria muitos casamentos estranhos)”.
É óbvio que este conflito é mais complicado aos homens, pelo velho apelo cultural a que estão enovelados e ”submetidos”. Me pergunto aqui se não existe um desejo latente, prestes a explodir, de um movimento que diria, poderia se chamar Novo Masculinismo, onde os homens requereriam seu direito a uma certa sensibilidade em face à cultura e à sociedade?