sábado, 28 de março de 2009

Natureza da Realidade é Subjetiva?


Para responder essa difícil pergunta é tentador buscar respostas fáceis. Para não cair nessa armadilha, e especularmos acerca deste assunto, devemos nos apropriar de conhecimentos que a filosofia já nos dá a priori.

Quanto à natureza da realidade, podemos distinguir alguns aspectos de qual realidade estamos falando e lidando:

- Realidade Absoluta

- Realidade do bem comum ou do senso comum nas relações humanas

Como diz John Lewis em seu livro "História da Filosofia", a natureza da realidade não é simplesmente o que ela parece ou aparenta: "Os filósofos, a partir de Platão, tem compreendido que as aparências são ilusórias e que a realidade é mais profunda do que o óbvio". Ele diz ainda: "Significamos, pois, por Realidade as coisas como realmente são, depois que todo erro e ilusão foram corrigidos."

Agora cabe questionarmos: Cada pessoa é diferente da outras, não existindo um só indivíduo igual a outro. Indo além, cada um tem seu próprio mundo interno e suas próprias percepções, não havendo uma Realidade Última de percepção da própria realidade que seja comum a duas pessoas de maneira total e inequívoca. Desta forma, nunca haverá de ter uma realidade comum para duas pessoas diferentes. Estaremos falando de no mínimo duas realidades distintas, indissociáveis da presença da Mente. Isto, pois, a realidade depende do fator "Mente". Desse ponto de vista, a realidade sempre será subjetiva. Se tirarmos a Mente do jogo, o que sobra? Átomos, elétrons, nêutrons, "Consciência cósmica" ?

Átomos, elétrons e a infinidade de substâncias e ondas existentes no Universo, formam o Todo, o Universo, a Realidade. Em uma experiência científica, por exemplo, ao se buscar a observação direta de um elétron e seu movimento, várias coisas foram descobertas. "O elétron é interessante, pois está sempre em movimento, sendo impossível prever exatamente onde está localizado em um determinado instante, e é como se aparecesse em um lugar e depois em outro, mas sempre ao redor do núcleo quando estável."

Na verdade, até o fato de se observar implica no resultado da observação, pois no ato de se observar, pelo menos um fóton é liberado para a observação, fato que gera um resultado não totalmente objetivo.

O Real, parece esbarrar na limitação, nos limites que encontramos em nós mesmos, para diferenciar ilusão da realidade.

Mesmo na fantasia, o mundo vai acolher essa fantasia se houver uma correta articulação dela com o real, o que é perfeitamente possível. Isto é, tornar o seu desejo fantasístico uma realidade. É óbvio que ocorre nessa passagem da fantasia em algo plausível de ser realizado na realidade em que habitamos, uma transformação, uma lapidação.

Ainda assim, a Fantasia, considerando-a como uma realidade subjetiva do sujeito, e esta realidade, apesar de subjetiva, tem uma realidade quase que intrinsecamente objetiva para o sujeito, pois é uma experiência "real" para quem a vive.

Como a indagação deste Proto-Artigo indica, dificilmente iremos nos contentar com uma resposta última ou mágica a respeito deste assunto. Devemos apenas nos questionar e refletir se a realidade absoluta ou não, tem um caráter estritamente subjetivo. Porque há uma implicação forte nesta afirmação, pois o subjetivo muitas vezes implica em "aparência" e ilusão, o que vai contra o conceito de Realidade ou Verdade Última ou Absoluta.

Se a Realidade pode ser designada como realidade comum a uma sociedade de seres vivos ou não, esta realidade vai estar atrelada à Cultura, na qual, desta mesma forma, cairá em uma Realidade Subjetiva.

Agora, se a Realidade a se conceituar aqui for a da Realidade Absoluta, austera, certamente com a limitação que nos habita, não será possível desvendar e identificar a tal realidade das causas últimas.

Para um "Mesmo Alguém" existir e detectar simultaneamente, isso implica num paradoxo.

Se por acaso me perdi nos conceitos aqui, por favor me tragam a realidade, rsrs.
Caio Garrido
Obs: Após ter postado esse texto aqui no blog, curiosamente li algo sobre Kierkegaard , que postulou entre outras coisas, que a Verdade é subjetiva. Vale a pena pesquisar...

segunda-feira, 9 de março de 2009

Inconsciente Coletivo, Angústia e Criatividade


Depois de algum tempo sem escrever, ou ter algo útil a compartilhar, mexo no molho e do caldeirão saem algumas idéias que brotam da partilha de idéias de outros.

A matéria-prima da criatividade quase sempre vem de uma ponte que se estabelece entre o inconsciente e o consciente. Donald Meltzer, em seu livro "O Processo Psicanalítico", cita como exemplo a atividade analítica. Tal atividade, assim como uma atividade que tem que ser sempre ser mantida em alto nível, como à dos atletas e dos artistas virtuosos em geral, deve ser mantida sempre com uma confiança inabalável no inconsciente, assistido e observado pelo órgão da consciência.

Eu acredito que para haver tal "ponte", além de uma certa potência interna e uma disponibilidade dos conteúdos inconscientes atravessarem a psique em direção à consciência, existe uma terceira camada de eventos que deve haver para contribuir no incremento da criatividade, que seria a contribuição de outras pessoas, isto é, na coletividade , ou em grupos, equipes, surgem a matéria-prima para o desenvolvimento de novas percepções da realidade e de novas posturas frente a ela. Nessa condensação de idéias acaba se gerando insights, em termos de linguagem.

Jung confia muito no seu conceito de Inconsciente Coletivo. Por minhas percepções, apesar de muito banais ainda, e por ainda não ter um completo conhecimento da obra de Jung, e até em relação de sua obra em relação à do próprio Freud, penso que está cada vez mais claro tal concepção. Explico: Parece haver uma certa opacidade nas relações humanas nos dias de hoje. Eu estava navegando pela Internet, e observando blogs que são digamos, meio existenciais, filosóficos, e são marcados pela angústia de pessoas comuns como a gente, e estão mostrando uma tendência e uma certa presença de várias angústias comuns à várias pessoas. As formas que as angústias existenciais que tecem a vida em geral, apesar de bem diversas, parecem sempre apontar para os mesmos tipos de dúvidas. Isso organiza uma vasta rede de pensamentos comuns a todos que pode muito bem designar o que Jung ditou como Inconsciente Coletivo. A "evolução" ou involução pela qual passamos pode muito bem estar no mesmo estágio.

Aonde eu quero chegar? Primeiro, que nada vem de si próprio somente. Qualquer forma de expressão, linguagem ou ato em geral, vem de certa forma de outrem. E indo além, vem do inconsciente coletivo.

Além disso, para a criatividade atingir a si mesmo e possibiltar sua expressão, deve ultrapassar as resistências vindas da angústia e ultrapassar outros sofrimentos psíquicos.
Caio Garrido